A ansiedade é tida como uma experiência de sofrimento marcada pela expectativa de algum acontecimento inesperado no futuro. Normalmente, tal evento é tido como perigoso e ameaçador e detém o medo como a resposta mais frequente. Este, por sua vez, coloca o sujeito em estado de alerta constante, numa real preparação para “luta ou fuga” daquilo que o ameaça.
Essa condição está associada a dois níveis sintomáticos. O primeiro é o dos pensamentos, com seus conteúdos frequentes de perigos iminentes, negativismo, oscilações na experiência com o tempo e alterações do sono. O segundo se refere ao físico, que manifesta diversas formas de tensões musculares oriundas do estado de vigília e de preparação constantes, além de dores, por vezes inexplicáveis, sensibilidades, sudorese e tremores. Em resumo, a pessoa costuma estar o tempo todo preparada para ter que lidar com alguma ameaça. Isso gera intenso desconforto, receio e um prejuízo global na dinâmica de relacionamentos, do trabalho e da vida como um todo.
As formas de expressão da ansiedade são diversas e configuram diferentes quadros psiquiátricos. Eis os principais:
Ansiedade de separação: medo intenso de separação de pessoas com quem o sujeito tem apego.
Mutismo seletivo: dificuldade persistente para falar em situações sociais, nas quais existe a expectativa de comunicação, ao passo que, em outras situações, o sujeito consegue falar normalmente.
Fobia específica: situação experimentada como uma forma de perturbação diante de uma ideia ou de algum objeto, animal ou situação específica.
Fobia social: ocorre quando a experiência de perturbação se dá especificamente associada às situações de exposição social, nas quais o sujeito estaria passível de ser observado ou avaliado por outras pessoas.
Transtorno de pânico: são ataques abruptos e inesperados em que a sensação de medo toma o sujeito iminentemente. O desconforto é intenso e pode ser acompanhado de alguns sintomas, como, por exemplo: taquicardia, sudorese, falta de ar e medo de enlouquecer, de perder o controle e de morrer, dentre outros. Muitas vezes, o próprio medo de ter um novo ataque desencadeia um episódio.
Agorafobia:quando a situação fóbica se articula a lugares específicos de exposição, seja em locais fechados ou abertos. Filas, pontos de encontro, transportes públicos e o medo de sair de casa sozinho são algumas das suas possíveis características.
Induzida por substâncias: provocada por abstinência ou intoxicação por alguma substância química.
Os fatores que causam a ansiedade podem ser múltiplos, sendo muito difíceis serem generalizados para todas as pessoas, embora estima-se que, atualmente, cerca de 5 a 10% da população seja atingida por essas condições. Contudo, qualquer forma de diagnóstico das condições ansiosas pela perspectiva psicológica e psicanalítica deve, inicialmente, estabelecer a sua diferenciação dos quadros de angústia.
Na medida em que o medo é o afeto principal nesses dois quadros, a sua diferenciação se dá em relação ao que se tem medo. No caso da ansiedade, aquilo que se teme é mais claro: um animal, um carro, uma ideia e/ou uma situação específica. Ou seja, nos quadros ansiosos, aquilo de que se tem medo é um objeto ou uma ideia definida. No caso da angústia, não se tem muita clareza a respeito do que se teme. Isto é, sabe-se que se está com medo de algo, com uma sensação clara de mal-estar ou aflição, mas não se sabe muito bem do que.
Cada uma dessas formas de sofrimento requer um tratamento específico, uma vez que a organização psíquica em cada um dos casos se coloca de modo diverso em uma condição e em outra. No entanto, muitas vezes, a fixação dos sintomas de ansiedade ocorre como uma modalidade de fuga de algo mais basal, que é o sofrimento próprio da angústia. Ou seja, os sintomas de ansiedade podem ser produzidos como uma forma de defesa para não se lidar com algo mais profundo (ver texto sobre a angústia).
Os quadros ansiosos são marcados pela pessoa ao vivenciar determinadas situações com a sensação constante de vulnerabilidade e impotência diante da realidade. Ela tem dificuldade de sustentar e colocar no plano prático ações que ela própria pode tomar como importantes para a sua vida. O sujeito investe muito tempo e energia para tentar identificar as diversas situações das quais precisa “escapar”, a fim de não se deparar com o mal-estar próprio de sua condição.
A questão fundamental sobre a ansiedade e seu medo subjacente reside no fato de que, em certo nível, ambos são aspectos normais na estrutura da personalidade. O medo tem uma função vital, que consiste na proteção do corpo e da vida, ao passo que a ansiedade corresponde a um conflito essencial da condição humana, na qual a pessoa, para viver em sociedade, precisa superar a sua condição de ser apenas um corpo físico para se tornar um ser humano e social.
Nesse sentido, quando o medo e a ansiedade passam a provocar muito sofrimento e assumem uma conotação tida como patológica, o seu tratamento perpassa por uma reorganização da relação do sujeito com a realidade e com algo de si próprio que, às vezes, não é tão claro, mas cuja implicação é central na vida. É extremamente importante trabalhar os aspectos que marcaram a vida da pessoa no processo de se adaptar às exigências que requer a vida em sociedade.
Antes de se diagnosticar com algum quadro de ansiedade, consulte um profissional.
NOTA: É possível identificar algumas diferenças de tradução nos termos "ansiedade" e "angústia" na literatura freudiana. Aqui, adota-se a perspectiva que a ansiedade apresenta objetos claros, ao passo que na angústia não.
Fontes:
DSM-V: Manual de diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais. Artmed, 2014.
https://www.youtube.com/watch?v=gTuMV2ml9D8
DUNKER, Christian. A ansiedade tem saídas pela Psicanálise?
https://www.youtube.com/watch?v=SoPToMkgv7M
DUNKER, Christian. O que é Transtorno de Ansiedade Social?
FREUD, Sigmund. Inibição, Sintoma e Angústia (1926). Companhia das Letras, 2014.
href="https://www.youtube.com/watch?v=8OEdd1MXJJg ">SIMÕES, Alexandre. Ansiedade entre nós, hoje.