ANGÚSTIA




A angústia consiste em um quadro que atualmente não tem tido o devido valor nos debates da psicopatologia tradicional. No Código Internacional de Doenças (CID-10), encontram-se apenas três formas de sua conotação patológica: o “Transtorno ligado à angústia de separação” (F93.0), o “Desconforto (angústia) respiratório(a) do recém-nascido” (P22) e a “Síndrome da angústia respiratória do recém-nascido” (P22.0). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) também não apresenta nenhum quadro psicopatológico próprio da angústia, tomando-a somente como um sintoma que pode surgir em diversos diagnósticos psiquiátricos.


Para a Psicanálise, a angústia apresenta uma função essencial e é definida como uma modalidade de afeto central na dinâmica da personalidade. Ela pode ser vivenciada pela pessoa com muito sofrimento, sendo experimentada como um extremo do desconforto, manifesto como agonia, como aflição e até mesmo como dor nos órgãos. Suas reações são intensas e manifestadas de forma visceral no corpo: como uma sensação intensa de vazio e falta. A apresentação desse quadro nem sempre demonstra clareza sobre o que desperta tal condição.


Essa é uma informação importante. Quando se fala da angústia, é comum associar que não existe razão ou coisa alguma que desperta o mal-estar, já que ela não se apresenta de maneira tão clara e sua sensação é justamente de “vazio” e “falta”. Entretanto, mesmo que seu abalo tenha essas características, na realidade existe algo que produz tal condição por mais que não se apresente de forma tão explícita.


A psicanalista Maria Lívia T. Moreto afirma que “o sofrimento vem de uma demanda de reconhecimento”. Isso significa que o sofrimento em uma pessoa pode ter relação com um reconhecimento que ela não recebe do outro embora possa não saber muito bem sobre isso. Com isso, é possível compreender que essa modalidade de mal-estar se articula, em certo nível, com padrões e posições das relações afetivas que são estabelecidas na vida do sujeito.


Experimentar a angústia pode fazer com que a pessoa se depare com uma voracidade, que produz a impressão de deixá-la encurralada e presa, junto à sensação de poder ser engolida. Desse modo, apesar de que o que está em jogo nessa condição é a relação com o outro, cabe ao próprio sujeito produzir um conhecimento sobre a sua posição a respeito dos seus laços afetivos fundamentais em sua história. É crucial perceber qual o lugar, mesmo que sem querer, se ocupa na vida das pessoas. Aí, sim, torna-se possível criar formas de não mais precisar ser devorada. A análise é, então, fundamental nesse processo.



Fontes:


CID-10: Código Internacional de Doenças. Disponível em: https://www.bulas.med.br/cid-10/


DSM-V: Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais. Artmed, 2014.


DUNKER, Christian. O que é a falta, o vazio e o nada? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kSQVIpG_9gI


FREUD, Sigmund. Inibição, Sintoma e Angústia (1926). Companhia das Letras, 2014.


LACAN, Jacques. O seminário livro 10 – A angústia (1962-1963). Zahar, 2005.


MORETO, Maria Lívia Tourinho. O sofrimento na nossa cultura do sucesso. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nTVuwSGx40c


SIMÕES, Alexandre. Ansiedade e Angústia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FGOa_EI-DvY