Obsessão



O que é comum falar

A obsessão se apresenta em diversos quadros psicopatológicos. Uma série de diagnósticos é a ela associada, sendo que os principais podem ser indicados como: o transtorno obsessivo-compulsivo, mais conhecido como T.O.C. (CID-10: F42), o transtorno dismórfico corporal (CID-10: F45.2), o transtorno de acumulação (CID-10: F42.1/F42.8), a tricotilomania (CID-10: F63.3) e o transtorno de escoriação (CID-10: F42.1/F42.8) dentre outros.


A seguir, um breve resumo dos principais sintomas de cada um desses quadros conforme a literatura psiquiátrica:


Transtorno obsessivo-compulsivo: diagnóstico marcado pela recorrência de obsessões e/ou compulsões. As primeiras correspondem à aparição de pensamentos, impulsos ou imagens intrusivas, indesejadas e persistentes; ao passo que as segundas são comportamentos e ações (motoras ou mentais), que se repetem demasiadamente como reação às obsessões. As compulsões tendem a ser altamente organizadas em parâmetros de rituais ou regras muito rígidas.


Transtorno dismórfico corporal: alto nível de preocupações com “defeitos” e “falhas” na aparência física, que não são percebidos por outras pessoas. O sujeito com este quadro tende a tentar se tranquilizar com atos mentais de se comparar com os outros ou com ações repetitivas, como, por exemplo, verificar-se sempre no espelho, beliscar a pele e “arrumar-se” excessivamente.


Transtorno de acumulação: dificuldade de se desfazer de objetos independentemente de seu valor e real utilidade. A pessoa acaba por acumular tanta coisa que congestiona e obstrui espaços de uso, comprometendo a utilização do local.


Tricotilomania: ato recorrente de arrancar o próprio cabelo, que resulta em perda capilar, sem outra razão dermatológica justificável. Pode ocorrer tanto no couro cabeludo como em outros locais onde existem pelos, como, por exemplo, as sobrancelhas, axilas, cílios etc.


Transtorno de escoriação: ato recorrente de beliscar a pele, causando lesões em diversas partes do corpo.


O que não se diz tanto

A obsessão, não necessariamente, é identificada apenas em quadros passíveis de diagnóstico conforme os parâmetros descritos antes. Naturalmente, eles podem ser significativos embora não se tornem a única via de manifestação obsessiva. Com o suporte da Psicanálise, é possível identificar a existência de uma das mais recorrentes estruturas de personalidade, que é marcada pela obsessão-compulsão. Antigamente, era uma forma mais identificada nas pessoas do sexo masculino. Atualmente, pode ser reconhecida, em grande medida, em ambos os sexos.


Em similaridade com o que foi dito no início do texto, as obsessões se articulam aos fenômenos do pensamento. Elas podem aparecer em formas de dúvidas cruéis e constantes, além de, muitas vezes, terem correlação direta com a superstição. Isto é, o sujeito obsessivo sente que é responsável por possíveis acontecimentos, cuja natureza não depende da sua vontade ou ação. É muito comum nesses quadros a pessoa ter um sentimento contínuo de estar em dívida com algo ou alguém, produzindo ações recorrentes para tentar saná-las. O fato é que, por mais que o obsessivo se esforce para isso, logo vem outra situação, a qual instaura novamente o sentimento de estar em débito.


As ações compulsivas, por sua vez, sejam elas motoras ou mentais, visam a apaziguar a intrusão dos pensamentos. A pessoa tende a criar processos altamente criteriosos para realizá-los, que podem se manifestar das mais variadas formas. Nos casos mais extremos, alguns dos exemplos podem ser: lavar as mãos a todo momento, contar azulejos dos lugares e realizar enumeração dos postes na rua até chegar ao seu lugar de destino. Por vezes, o sujeito observa os blocos no chão das calçadas e se sente obrigado a pisar apenas nos mais claros, não podendo encostar nos mais escuros, ou vice-versa.


Enfim, as ações compulsivas podem ser as mais diversas e dos mais variados níveis de intensidade. Com isso, é fundamental salientar que elas são construídas em cada pessoa individualmente. Ou seja, cada obsessivo irá desenvolver uma forma de ação ou pensamento compulsivo de maneira única e exclusiva na sua vida.


As ações compulsivas acontecem em uma modalidade de ritual particular da pessoa. Como dizia Freud, a condição obsessivo-compulsiva seria uma forma de religião individual, na qual a pessoa estabelece critérios altamente definidos a respeito da vida e de sua conduta, com os quais estabelece um compromisso inviolável, já que quebrar tais contratos poderia desencadear algum acontecimento não desejado.



Por sempre “andar na linha” com os critérios preestabelecidos, o obsessivo tende a ser alguém que se apresenta como uma pessoa com escrúpulos. Ele valoriza ter grande controle sobre as coisas e tende a ter grandes dificuldades em aceitar ou vivenciar algum tipo de risco na sua vida. Todas as ações são altamente calculadas com muita racionalidade de modo a evitar todo e qualquer perigo imaginado. Por isso, a tomada de decisão é muito árdua, uma vez que muitas coisas são consideradas a todo momento no seu infindável raciocínio.



Em matéria de amor, o obsessivo tende a tê-lo de maneira idealizada. Isto é, a pessoa amada por quem tem um quadro de obsessão tende a ser percebida como alguém extremamente perfeita, sem defeitos. No entanto, ao se deparar com a pessoal real com quem se relaciona e não com a ideia que formou dela, o obsessivo tende a sofrer muito. Com isso, aparece, às vezes, a ideia de se separar do par amoroso, ao mesmo tempo em que não tem coragem para tomar essa decisão definitiva. Esse dilema costuma se estender por um tempo significativo e gera consequências.



Em vias de conclusão, é essencial salientar um importante quadro que pode surgir nas pessoas obsessivas, que é a hipocondria. Sem razões aparentemente justificáveis, o obsessivo costuma ser tomado por momentos em que vive a expectativa do adoecimento. Ou seja, fica à espera de que algo pode ocorrer com sua saúde. É muito comum que ele realize consultas médicas e exames que apresentam resultados normais, mas que não o convencem de que está tudo em ordem com sua saúde. Alguma forma de mal-estar vivenciada por ele é claramente sentida no campo físico, porém seus incômodos não são localizados nos resultados de exames, o que pode aumentar a angústia do obsessivo.



Antes de se diagnosticar com algum quadro de obsessão, consulte um profissional.



Fontes:

DSM-V: Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais. Artmed, 2014.

DUNKER, Christian. Sobre a neurose obsessiva.

DUNKER, Christian. O que é T.O.C.? Como dá seu diagnóstico? CID-10: Código Internacional de Doenças